Artesãos do concelho, uni-vos!
O título, intencionalmente provocatório visa, tão-só, cativar a atenção dos artesãos oliveirenses.
O título, intencionalmente provocatório visa, tão-só, cativar a atenção dos artesãos oliveirenses. Pode, pois, o leitor manter a serenidade porque não vou dissertar sobre o Manifesto Comunista de Karl Marx e Friedrich Engels ou, tão-pouco, imiscuir-me nos meandros da política local. Excecionalmente, arrogo-me o papel de emissário, relembrando os mais distraídos da recente iniciativa da ADRITEM, designada por “Rede de Ofícios Tradicionais e Arte Criativa” e aproveito para exortar os oliveirenses à participação.
Oliveira de Azeméis tem uma tradição secular em artes como a moagem, os produtos em cobre, o barro preto de Ossela, a arte em madeira, a doçaria e gastronomia local, as sacas de tiras de Cucujães ou os espantalhos – artes que estão na génese da nossa identidade e fundam o concelho atual. Preservar e fomentá-las deve constituir um eixo essencial na afirmação do concelho e promoção da cultura identitária do nosso povo.
Não sendo abundantes as iniciativas neste âmbito, convém empenhar o nosso esforço em captar os parcos projetos e incentivos que surjam. A iniciativa em curso visa a criação de uma Rede de Ofícios Tradicionais e Arte Criativa das Terras de Santa Maria e abrange, entre outros, o concelho de Oliveira de Azeméis. O projeto envolverá uma centena de artesãos com certificação oficial, designers recrutados para o efeito e elementos da “Associação de Artesãos das Terras de Santa Maria” e da “Associação Portugal à Mão”. Aos artesãos já certificados, poder-se-ão associar os interessados que se predisponham a obter a Carta de Artesão no prazo de um ano.
Não sendo legalmente obrigatória, a atribuição desta carteira profissional certifica a atividade artesanal desenvolvida, pressupõe o reconhecimento de que produz e comercializa artesanalmente produtos alimentares ou não alimentares e possibilita o acesso às vantagens daí decorrentes tais como, maior visibilidade e valorização em sociedade; acesso a apoios e benefícios Estatais para o sector das Artes e Ofícios em matéria de formação, modernização dos processos de fabrico, investimento e participação em certames; conhecimento das associações do setor e, do ponto de vista social, o reconhecimento do seu estatuto enquanto difusores da cultura portuguesa, facultando o seu enquadramento numa rede de artesãos e unidades produtivas ou outras estruturas representativas. São competentes para a emissão do título a AARN – Associação de Artesãos da Região Norte ou qualquer associação pertencente à Federação Portuguesa de Artes e Ofícios.
O projeto prevê a criação de, pelo menos, um centro de incubação para artesãos em cada Município, a preservação dos seus ofícios tradicionais e proporcionar aos criadores a oportunidade de desenvolver o artesanato típico de cada localidade. A ADRITEM encontra-se já a selecionar os locais que acolherão os centros de incubação da Rota Criativa, estando em curso o diagnóstico das especificidades artesanais dos municípios envolvidos com base “na herança própria de cada lugar”. É previsível que, entre os produtos a promover, se incluam a ourivesaria de Gondomar, os brinquedos e ardósias de Valongo, mas também o vidro e barro negro de Oliveira de Azeméis. Na rede haverá também artesanato de “valor transversal como a tecelagem, o papel e a cestaria”.
A participação, empenho e mobilização da autarquia e artesãos oliveirenses neste projeto é desejável e necessária. Porque temos “segredos” só nossos: artefactos, costumes mas também receitas e gastronomia que teremos oportunidade de exibir, divulgar e promover, contribuindo dessa forma para a afirmação dos artífices, do concelho, mas, acima de tudo, para a consciencialização do valor das nossas gentes, tradições e cultura, área em que muito está ainda por fazer.
Por: Paulo Cunha
Fonte: A voz de Azeméis